Com este texto, inauguramos uma série especial de publicações no nosso novo blog, dedicado a relembrar e analisar todos os episódios do podcast AIAgora, além de publicar os artigos elaborados por nossos membros. Nosso objetivo é ampliar o debate sobre os impactos da Inteligência Artificial no Direito e na sociedade, promovendo uma reflexão crítica e interdisciplinar sobre as transformações tecnológicas em curso. Por meio dessas publicações, buscamos aproximar o público acadêmico e profissional das discussões que movem o grupo de extensão, fortalecendo o papel da AIA como espaço de pesquisa, diálogo e inovação jurídica.
No dia 25 de setembro de 2024, o AIAgora, podcast da AIA, recebeu Ciro Torres Freitas, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados e especialista em Tecnologia e Propriedade Intelectual. A conversa, conduzida pelos integrantes do grupo de extensão, Lucas Nóbrega e Irys Salvatico, trouxe uma análise profunda sobre o papel da IA na advocacia contemporânea e os caminhos possíveis para sua adoção responsável e estratégica.
A IA como aliada da qualidade, não da substituição
Logo no início da entrevista, Ciro destacou que o Pinheiro Neto adota a IA não com o objetivo de substituir profissionais, mas de elevar o nível do serviço jurídico prestado aos clientes. A implementação tecnológica é tratada como um processo contínuo, cuidadosamente supervisionado, no qual a qualidade e a segurança estão acima da simples redução de custos. Ciro resumiu a filosofia do escritório em uma frase:
“Nosso propósito ao implementar Inteligência Artificial é melhorar o nível do serviço recebido pelos nossos clientes. Nosso foco é e continuará sendo a entrega do melhor serviço jurídico.”
Na prática, a IA tem sido aplicada em várias frentes, desde rotinas internas e gestão (como o resumo de reuniões e organização de e-mails) até tarefas jurídicas complexas, como pesquisa de jurisprudência, elaboração de minutas e contratos, e análise de tendências de tribunais. As ferramentas adotadas, entre elas soluções personalizadas como o Microsoft Copilot, vêm contribuindo para um trabalho mais ágil e estratégico.
Aumento de capacidade e o papel insubstituível do humano
Um dos pontos centrais da discussão foi a visão de que a IA deve ser entendida como assistente e não substituta. Ciro destacou que o maior valor da tecnologia está em ampliar a capacidade humana, automatizando tarefas repetitivas para que os advogados possam se concentrar em atividades de maior valor agregado. Ainda assim, certas habilidades permanecem irredutivelmente humanas como a sensibilidade nas negociações, a criatividade para formular teses inovadoras e o relacionamento interpessoal com clientes e colegas.
Essas competências, segundo o entrevistado, são o verdadeiro diferencial do profissional do futuro, algo que nenhuma máquina é capaz de replicar.
Ética, segurança e governança no uso da IA
A conversa também abordou os riscos éticos associados ao uso de IA no direito, como vieses discriminatórios, desinformação e violação de privacidade. Para enfrentá-los, o Pinheiro Neto criou um robusto sistema de governança, com revisão humana obrigatória, políticas internas de transparência e treinamentos contínuos.
Assim, nenhum dado sensível de clientes é inserido em sistemas de terceiros, e a seleção de fornecedores é feita com base em critérios de segurança, explicabilidade e confiabilidade.
Desafios da Propriedade Intelectual e o dilema regulatório
No campo da Propriedade Intelectual, Ciro ressaltou questões complexas ainda sem resposta clara, como o uso de obras protegidas para treinar modelos e a definição da titularidade de conteúdos criados por IA. Já no aspecto regulatório, destacou que o Brasil caminha para uma lei geral de IA (PL 2338/2023), mas alertou que o país precisa evitar uma regulação apressada. Para ele, é essencial diagnosticar primeiro como a tecnologia é usada nos diferentes setores e, só depois, criar uma legislação realmente eficaz.
O advogado do futuro: humano, estratégico e curioso
Encerrando a entrevista, Ciro compartilhou uma mensagem importante para estudantes e jovens profissionais: a IA é uma realidade irreversível, mas o diferencial competitivo continuará sendo humano:
“A inteligência artificial não vai desacontecer. O que distingue o bom advogado é a capacidade de aprender continuamente e de pensar além do óbvio.”
Além do domínio técnico do direito, o advogado do futuro precisará desenvolver excelência na comunicação, visão de negócio, espírito empreendedor e humildade para aprender.
Ciro ilustrou essa evolução com uma comparação nostálgica: em 1999, a pesquisa jurisprudencial exigia horas em bibliotecas e consultas manuais a revistas especializadas; hoje, ferramentas de IA fazem esse trabalho em segundos, permitindo que o advogado se dedique ao que realmente importa, a estratégia, o raciocínio jurídico e a criação de soluções.
O episódio completo com Ciro Torres Freitas está disponível no YouTube e no Spotify. É só clicar na foto do convidado, no início do post para ser redirecionado. Para acompanhar as próximas entrevistas e publicações, siga nossos grupos nas redes sociais e nos acompanhe aqui no blog!
Até breve! 🤖
